06 abril 2009

Para lá dos sentidos..

Saímos de casa perto da hora de almoço. A entrada é às 15h00 e vamos com calma. O aroma a eucalipto e a flor de esteva entra no carro e acompanha-nos durante toda a viagem.
Chegamos duas horas depois. Sentimo-nos perdidos no meio da ondulante paisagem que nos circunda. Uma pequena entrada murada de branco encaminha-nos para a Herdade e convida-nos a entrar. O laranja intenso das paredes e o azul-turquesa das portas e janelas quebra o verde bucólico da paisagem. Saio do carro e sou absorvida de imediato pelo silêncio que se faz sentir.

Dirijo-me à porta de entrada.

“Bom dia… Desculpe recebê-la assim…” diz-me enquanto ajeita a camisa que cai sobre as calças. “Isto aqui é sem cerimónias mas mesmo assim.. Desculpe lá..” e continua a passar as mãos pelas pontas da camisa.
“Não tem mal nenhum”, respondo. “Tenho uma reserva para o 6.º Sentido..”
“Ah sim..” (tira um pequeno papel do bolso manuscrito) “A Lu deixou-me aqui a indicação de que os senhores iam chegar.” “É a senhora…”
“Sou sim”, respondo.
“Se me quiserem acompanhar eu mostro-lhes já a casa.”
“Agradeço mas o meu marido fica no carro porque o bebé está a dormir.”
Ainda insiste que seria melhor ele ver também mas lá avançamos para a visita à casa que nos iria receber durante os próximos dois dias. Poucos minutos bastaram para percorrermos os espaços sui generis do Reguenguinho.

Na sala de estar, pequena e acolhedora, um grilo esboçado num enorme quadro de fundo amarelo preenche a parede quase na totalidade em conjunto com a lareira. Não consigo ancorar o olhar num ponto. Percorro as paredes, o chão, as janelas, os corredores.
Cantos e recantos criativamente decorados com peças de aqui e de acolá, com fotografias e telas pintadas, com tesouros herdados de família ou até mesmo com pequenas pechinchas que no conjunto completam as ambiências e cenários da herdade.

A mesa de refeições repousa no centro da sala comum, perto da lareira e junto a estantes com livros de decoração, arte e pintura, uma colecção de soldadinhos nazis e apetrechos de guerra, candelabros, carros e carrinhos, pesos e medidas. O pequeno-almoço serve-se até às 12h00 e a mesa arranja-se a rigor. As iguarias despertam-nos as papilas degustativas: sumos naturais, chás, queijo fresco e seco, marmelada e compotas caseiras, enchidos tradicionais, fruta fresca, pão e bolo caseiros e uma tarte de maçã que me atrevo a dizer que foi a melhor que já comi até hoje.

Da porta envidraçada conseguimos espreitar a piscina, os alpendres e páteos e as inúmeras espreguiçadeiras que convidam a um banho de sol ou a uma boa leitura. Mais uma vez se nota a imaginação e criatividade dos proprietários nos pequenos espaços que circundam a casa. Nada foi deixado ao acaso.

As plantas e flores crescem um pouco por todo o lado. Os morangueiros acompanham os degraus do pátio, feitos de travessas de madeira das ferrovias. A salsa, a hortelã e a hortelã-pimenta crescem livremente nos canteiros. Por todo o lado se houve os zunzuns das abelhas e abelhões que sugam o pólen sofregamente.

As portas dos outros quartos estão abertas. Sente-se um ambiente familiar. Sentimo-nos em casa e à passagem todos nos cumprimentam.

O conceito dos quartos baseia-se nos cinco sentidos. A decoração de cada um é alusiva a cada um dos sentidos, o tocar, o gusto, o vedere, o olor, o oir. A estes junta-se um loft, o 6.º sentido, e, mais acima, duas palafitas temáticas, água e terra.

O loft é místico. Sente-se o cheiro da lenha queimada no ar. Está decorado em tons cru, beije, bronze, quebrado por móveis rústicos de madeiras escuras. A sala, a pequena kitchenet e o wc completam o rés-do-chão. Uma estreita escadaria levam-nos ao sótão transformado num quarto simples e acolhedor.

Não há televisão ou computador. No loft há apenas um leitor de CD com uma cópia dos nouvelle vague. Ali o mundo parece parar. O vento a soprar nas cearas de trigo ainda verde, o som dos grilos a cantar e o por do sol são prenuncio do anoitecer que convida a uma boa leitura ou a um jogo de dominó.

No fim-de-semana que se torna sempre pequeno houve ainda espaço para a boa gastronomia alentejana. Não podia deixar de me deliciar com os petiscos da Tasca do Celso. A escolha desta vez recaiu sobre uns filetes de pampo com arroz de tomate, uns secretos de porco preto e uma sericaia acabada de sair do forno, generosamente polvilhada com canela e coroada por uma brilhante e doce ameixa de Elvas. Antes do regresso, uns frutos secos e um licor de bolota deixam na boca o desejo de voltar breve breve..

23 comentários:

  1. Que local maravilhoso! Apetece largar tudo e pôr-me ao caminho.
    As fotos ficaram fantásticas.
    Talvez um dia passe por lá, vontade não falta e também já merecia uns dias de descanso.
    Bjs
    Moira

    ResponderEliminar
  2. Estou encantada com a tua Estória...
    A discrição é tão perfeita que me transportei para o lugar e pude ver com os teu olhos.
    Bjos e boa semana

    ResponderEliminar
  3. Que lindo, adorei as cores :) Isso sim são férias!

    ResponderEliminar
  4. Se pudesse largava tudo e rumava para esse local maravilhoso!
    Fotos lindas!
    Beijinho
    Patrícia (Botinhas)

    ResponderEliminar
  5. Margarida, as tuas palavras desenharam os caminhos que nos levam até ao paraíso.
    E o paraíso pode estar tão perto... basta abraçarmos quem amamos e caminharmos até lá, tal como fizeste!

    Ainda bem que tiveste um fim de semana de sonho. Eu hoje jásonho écom o fim de semana. :) :)

    Bejiinhos.

    ResponderEliminar
  6. Bem adorei as tuas palavras,parecia que estava a ler um belo livro!
    Adorei as fotos também.
    E adorei rever o Licor de Bolota!!
    Esse é o melhor!!! Não sabes o que já corri atras dele aqui no Norte e não encontrei em lado nenhum!!!
    Saudades...comprei de outras marcas,mas o sabor nada tem a ver!
    Beijinhos grandes e obrigada por partilhares connosco esse belo fim de semana.

    ResponderEliminar
  7. Bem eu tenho esse cenário todos os dias hehe para mim é comum e às vezes tb tenho stress do campo,talvez seja por isso que nas minhas viagens vou sempre para cidades, mas não trocava, isso te garanto...ficaram lindas as fotos...

    ResponderEliminar
  8. olá margarida,
    não a conheço e fiquei com imensa pena de não a ter conhecido.
    queria agradecer-lhe as suas palávras sobre a herdade, a qual deixámos durante quinze dias, dias que ficamos sempre com o coração nas mãos por não sabermos se tudo correrá como quando estamos presentes... mas as nossas viagens são imprescindíveis, uma das nossas fontes de inspiração. é bom saber que a nossa alma fica pela casa. as suas fotografias são lindissimas! Obrigada pela vossa visita, serão sempre bem vindos.
    susana
    hR

    ResponderEliminar
  9. Linda descriçao! Adorava conhecer esse lugar maravilhoso. Bjs. Suzel

    ResponderEliminar
  10. Amiga,
    sou outra fã deste teu livro de vaigens real.
    Não conheço mas já a recomendei.
    Adorei e senti cada passo teu, ainda por cima posso imaginar-te porque conheço-te pessoalmente.
    Será que numa das fotos vejo a Mathilde!!??
    Um fim de semana para carregar baterias para a época que se aproxima, excelente.
    Beijinhos

    Pi

    ResponderEliminar
  11. E onde fica esse paraíso que ficou tão bem descrito?...
    bjs

    ResponderEliminar
  12. Que descrição soberba... uma amiga esteve lá o ano passado e também adorou mas não cheguei a ver fotos, agora com as tuas tudo se tornou mais claro.

    Beijinhos,
    Carlota

    ResponderEliminar
  13. Margarida,

    Não é à toa que trabalhas na área do turismo. Estou convencida e conquistada por esse local paradisíaco.

    bjs

    ResponderEliminar
  14. olá a descrição e as fotografias são magnificas... onde fica este paraiso?? será que me podes dizer? nem que seja 1 email por favor!!! tenho que lá ir
    bjinhos dos piratas

    ResponderEliminar
  15. Olá Margarida
    Absolutamente maravilhoso, obrigada por compartires estes momentos e sitios magnificos.
    Até consegui ouvir os sons e sentir a brisa lendo as tuas descrições.
    O sitio indicado para ir visitar.
    Fiquei apaixonada
    Feliz Páscoa x

    ResponderEliminar
  16. Mesmo com eu adoroooo!
    Turismo Rural é do melhor que há e no Alentejo então... nem se fala :)

    Belissimas férias!

    Beijocas alentejanas***

    ResponderEliminar
  17. Bom dia Margarida,

    O descanso foi merecido...
    Ainda bem que essas férias foram marcadas por tantas coisas boas!...não há nada como um fim-de-semana feito de momentos inesquecíveis para tornar a semana menos pesada...:)

    Um beijinho!

    ResponderEliminar
  18. Que reportagem linda. Excelentes férias essas... Fiquei com àgua na boca :D
    Boa páscoa.
    Um beijinho.
    Susana.

    ResponderEliminar
  19. Adorei a tua reportagem!!! Maravilhei-me com a energia positiva que as tuas fotos transmitem.
    Fiquei super curiosa com o lugar.
    Vai ficar na minha lista de locais a experimentar.
    Obrigada pela partilha. É sempre bom conhecermos estas maravilhas no nosso Portugal!!

    ResponderEliminar
  20. Já por aqui tinha passado e gostei tanto de passear contigo, que fiquei sem palavras para comentar.Gosto muito da doce paz do Alentejo, e estes "cantinhos" são um bálsamo. É pena não serem mais acessíveis em termos económicos...Bjs. Bombom

    ResponderEliminar
  21. Margarida,
    que delícia de final de semana!
    Posso arrumar as malas? Pena que fica com o Atlântico entre nós...
    Adorei!
    Um beijo!

    ResponderEliminar
  22. Tenho reserva marcada para julho.

    Fotos lindas!

    ResponderEliminar

Obrigada pelo seu comentário!
Thank you for your comment!