"Diz à mãe que pode vir buscar os Santos!" Todos os anos por esta época ela me pedia para dar o recado à minha mãe. Mais tarde comecei a ir buscá-los eu, e trazia-os divididos em saquinhos de plástico bem fechados. Hoje já não os faz. Os braços já não têm a força necessária para mexer aquela mistura que se adensa ao lume. Essa força que fazia "Santos" para dar e vender. Sim, vendia-os na sua banca na praça, especialmente àqueles clientes habituais que encomendavam de um ano para o outro. E assim começava a azáfama. Levava os figos e as amêndoas das bancas vizinhas da praça. A caminho de casa passava na mercearia para comprar o chocolate, o açúcar, a canela e a erva-doce. Carregava tudo na sua cesta de empreita, aquela que sempre a acompanhava nos dias de trabalho no mercado. Nestes dias eu saía da escola a correr, contando os segundos para meter a mão na massa. E ainda chegava a tempo de a ver montar a máquina de moer antiga na mesa de madeira. Moía as amêndoas. Moía os figos. Rodando sempre aquela manivela já enferrujada com a mesma destreza. De seguida passava para o fogão. E era aí que a magia acontecia. Primeiro o odor quente a chocolate, canela e erva-doce. Depois o aroma da amêndoa e do figo a mergulharem naquela calda. Em bicos de pés eu colocava-me junto a ela e tentava espreitar para dentro do tacho. Ela afastava-me com a sua preocupação de avó: "Sai daqui, olha que te podes queimar!" E lá voltava eu para a cadeira de atabua à espera que o tacho chegasse à mesa. Esta era a parte que eu mais gostava. Tornava-me impaciente enquanto a mistura arrefecia. E depois, bem, depois era um festim! Arregaçava as mangas, afundava as mãos na massa e moldava as pequenas bolas à medida que a observava no mesmo ritual. Por fim rebolava-as pelo açúcar e embrulhava-as delicadamente nos quadrados coloridos de papel de prata.
Entretanto a minha avó preparava os figos cheios que levava ao forno da vizinha para torrar. Na noite anterior já tinha franjado os pequenos pedaços de papel de seda de cores. Já frios enrolávamos um por um no papel, tal e qual como se fossem rebuçados. O fim da tarde nem se fazia sentir. Eu voltava para casa dos meus pais. A minha avó, resistia ao cansaço, arrumava a cozinha e preparava tudo para regressar ao mercado no dia seguinte.
Os bombons de figo, os figos cheios e as estrelas de figo (que não publico porque não tive disponibilidade para as fazer) são confeccionados um pouco por todo o Algarve habitualmente por altura do Dia de Todos os Santos, dia 1 de Novembro, daí serem muitas vezes apelidados de "Santos". Tanto a minha avó paterna como a materna mantiveram viva por muitos anos esta tradição, oferecendo-os aos filhos netos neste dia. Mas a idade não perdoa e agora é a minha vez de lhes retribuir os Santos.
Sofia, do meu Reino dos Algarves, que é também teu, envio-te esta estória recordada com saudade. Espero que pelo menos te chegue aí o aroma destas iguarias que as palavras transportam. Longos anos ao teu Reino!
Entretanto a minha avó preparava os figos cheios que levava ao forno da vizinha para torrar. Na noite anterior já tinha franjado os pequenos pedaços de papel de seda de cores. Já frios enrolávamos um por um no papel, tal e qual como se fossem rebuçados. O fim da tarde nem se fazia sentir. Eu voltava para casa dos meus pais. A minha avó, resistia ao cansaço, arrumava a cozinha e preparava tudo para regressar ao mercado no dia seguinte.
Os bombons de figo, os figos cheios e as estrelas de figo (que não publico porque não tive disponibilidade para as fazer) são confeccionados um pouco por todo o Algarve habitualmente por altura do Dia de Todos os Santos, dia 1 de Novembro, daí serem muitas vezes apelidados de "Santos". Tanto a minha avó paterna como a materna mantiveram viva por muitos anos esta tradição, oferecendo-os aos filhos netos neste dia. Mas a idade não perdoa e agora é a minha vez de lhes retribuir os Santos.
Sofia, do meu Reino dos Algarves, que é também teu, envio-te esta estória recordada com saudade. Espero que pelo menos te chegue aí o aroma destas iguarias que as palavras transportam. Longos anos ao teu Reino!
Ingredientes: 250g de figos secos, 250g de amêndoas (usei com pele), 200g de açúcar, 30g de chocolate em pó, 1 1/2 colher de café de canela, 1 colher de chá de erva-doce, 1,5 dl de água, raspa de meio limão, açúcar para finalizar
(T): Moa os figos e as amêndoas separadamente e reserve. Leve ao lume a água, o açúcar, a canela, a raspa de limão, a erva-doce e o chocolate até formar ponto de estrada. Junte a amêndoa moída e o figo, mexendo sempre e deixando ferver durante 5 minutos. À parte, polvilhe um tabuleiro com açúcar. Deite o preparado e deixe arrefecer. Depois de frio molde pequenas bolas do tamanho de uma noz e passe-as pelo açúcar. Recorte quadrados de papel de alumínio (ou papel de prata de cores) e embrulhe os bombons um a um.
(T): Moa os figos e as amêndoas separadamente e reserve. Leve ao lume a água, o açúcar, a canela, a raspa de limão, a erva-doce e o chocolate até formar ponto de estrada. Junte a amêndoa moída e o figo, mexendo sempre e deixando ferver durante 5 minutos. À parte, polvilhe um tabuleiro com açúcar. Deite o preparado e deixe arrefecer. Depois de frio molde pequenas bolas do tamanho de uma noz e passe-as pelo açúcar. Recorte quadrados de papel de alumínio (ou papel de prata de cores) e embrulhe os bombons um a um.
Figos cheios
Ingredientes: 500g de figos secos, 125g de amêndoa torrada moída, 60g de açúcar, 12g de chocolate em pó, 1/2 colher de café de erva-doce, 1 colher de café de canela, raspa de limão, amêndoas torradas inteiras (com pele) q.b.
(T): Misture bem a amêndoa, o açúcar, o chocolate, a canela, a erva-doce e a raspa de limão. Se os figos estiverem espalmados puxe-lhes o pé de modo a que voltem à sua forma original. Com uma faca afiada faça-lhes um golpe vertical, do pé até ao olho. Encha os figos com esta mistura. Termine com uma amêndoa inteira e una a abertura apertando. Disponha-os num tabuleiro e leve-os ao forno a torrar. Deixe arrefecer e embrulhe-os em papel de seda ou papel cristal franjado.
Ingredientes: 500g de figos secos, 125g de amêndoa torrada moída, 60g de açúcar, 12g de chocolate em pó, 1/2 colher de café de erva-doce, 1 colher de café de canela, raspa de limão, amêndoas torradas inteiras (com pele) q.b.
(T): Misture bem a amêndoa, o açúcar, o chocolate, a canela, a erva-doce e a raspa de limão. Se os figos estiverem espalmados puxe-lhes o pé de modo a que voltem à sua forma original. Com uma faca afiada faça-lhes um golpe vertical, do pé até ao olho. Encha os figos com esta mistura. Termine com uma amêndoa inteira e una a abertura apertando. Disponha-os num tabuleiro e leve-os ao forno a torrar. Deixe arrefecer e embrulhe-os em papel de seda ou papel cristal franjado.
Notas:- Na receita dos bombons de figo pode usar amêndoas e figos torrados;
- Pode optar por não embrulhar os figos cheios (como eu fiz);
- Tanto os bombons como os figos cheios aguentam bastante tempo guardados dentro de caixas herméticas;
- Receitas adaptadas do livro Cozinha Regional do Algarve.
Margarida fiquei com agua na boca... Devem ser uma delicia. Ainda agora comentei que ia até ao alentejo pedir o bolinho ... acho que vou descer mais um pouco e bato ai à porta também ...
ResponderEliminarOhhhh Tia da Bolinho ?????
Beijos grandes
Para além das receitas que devem ser deliciosas, adorei a história.
ResponderEliminarBjs
Que delícia de história e de receitas!... Adoro essas tradições que se perpetuam e que servem para transportar afectos: primeiro de avós para netos, agora da neta para a avó....
ResponderEliminarUm beijo Margarida!
Babette
Margarida, gostei muito da descrição das tuas memórias de infância. Que mantenhas sempre acesas, as nossas/tuas tradições :)
ResponderEliminarFiquei absolutamente encantada com a estória, as memórias de infância são mágicas mesmo... e as tuas receitas fantásticas.
ResponderEliminarbjs
Amiga, as memórias são ainda mais bonitas e mais cheias quando partilhadas assim, em linhas de carinho.
ResponderEliminarBeijinho grande. :)
Que estória deliciosa!
ResponderEliminarQue belas memórias!! :) São lindos!
ResponderEliminarQuerida Margarida,
ResponderEliminarChega-me muito mais que o aroma, chega-me a emoção, a saudade e um conforto inexplicável, sentindo o meu Reino dos Algarves nas tuas palavras!... Quando vou na altura de Maio ao Algarve, faço com a minha Avó os queijos de figo, exactamente com o mesmo procedimento que tu recordas. Partimos a amêndoa no quintal, moemo-la à manivela na máquina presa à mesa de madeira...
nunca fiz bombons de figo, nem figos cheios ou as estrelas de figo que adoro. A minha Bisavó costumava fazê-los e uma das recordações que tenho dela são mesmo as estrelas de figo.
Que bom recordar estes momentos! :)
Adorei ler a tua estória e não poderia encaixar-se melhor nas comemorações do Reino da Prússia, que é tão algarvio.
Obrigada de coração pela tua participação!
Beijinho grande
Sofia
Amiga como gostei da tua história!! É sempre um prazer ler o que escreves.
ResponderEliminarE esses bombons que eu tanto gosto, que saudades que tenho de os comer,
os figos cheios não conheço, nunca tinha ouvido falar, mas agradaram-me bastante
beijos grandes
Querida Margarida, as receitas são, indiscutivelmente,boas mas as histórias que as introduzem deixam-me sempre fascinada. Esta então... linda ! Bjs.
ResponderEliminarMargarida,
ResponderEliminarQue bom ler as tuas palavras tão cheias de carinho e emoções, é por isso que eu gosto tanto de ti :)
As receitas são maravilhosas e as fotos também. Ainda não conhecia os figos cheios.
Beijinhos também extensivos à família
Mais do que as receitas, a estória que contas é linda. Na minha família não há tradições culinárias e a minha avó não era muito virada para cozinhar. Obrigada por partilhares esta estória tão bem que passou a ser também um pouco nossa.
ResponderEliminarMargarida as tuas estórias são sempre tão cheias de carinho.É tão bonito guardarmos estes momentos e tradições.
ResponderEliminarOs doces devem ser muito bons.
Beijinhos
Adorei a tua estória. São belos os tempos assim recordados e tão bem partilhados. Recordar é viver e manter viva uma tradição como a que mencionaste é de louvar.
ResponderEliminarParabéns :)
Ah... já me esquecia de te dizer que também adorei as receitas ;)
Bjnhs
fiquei com lágrimas nos olhos... tão bonitas estas memórias!
ResponderEliminarnunca comi qualquer dos doces referidos, mas fiquei muito curiosa.
beijinhos
Melancia
Até me fizeste recordar de quando eu amassava o pão com a minha avó :) A masseira de madeira era enorme e eu até tinha medo de cair lá dentro he he Nunca comi estas especialidades Algarvias mas fiquei com vontade. Ainda tenho um resto de amêndoa, figos é que já voaram :)
ResponderEliminarQuerida Margarida, Acreditas que fiquei comovida com a tua estória? deves ter tocado aqui no "on" de um botão qualquer ;) E claro que amei os figos!!
ResponderEliminarUm Grande Beijinho,
Carlota
Olá,
ResponderEliminarSó de ver as fotos fez-me lembrar os figos cheios. Afinal somos originários da mesma região do país. Lembro-me muito bem quando a minha mãe os fazia e aproveitava para preparar as estrelas de figos e amêndoas (penso que sabes do que estou a referir).
Os figos cheios são um doce de chorar por mais. Depois de irem ao forno ficam com um aroma intenso.
Obrigado por partilhares a tua "estória".
Um abraço.
Miguel (Cozinha Sem Tabus)
Lindo e Delicioso.
ResponderEliminarbem, parece que combinamos... tu postaste os bombons de figo e eu postei as estrelas de figo, esses sabores tão tradicionais do nosso belo Algarve.
ResponderEliminarbeijinhos
Fizeste-me tanto recordar os tempos da minha infância com a minha avó. Infelizmente este ano nem figos cheios, nem estrelas nem nada. Ela já não pode e onde eu estou é difícil encontrar a materia prima algarvia primordial para preparar estas delicias. Adorei, adorei, adorei...
ResponderEliminarMuitos beijinhos
e bom manter estas tradiçoes que tantas recordaçoes nos trazem
ResponderEliminarestao bem bonito estes bombons.
beijinhos
Minha querida Margarida, é sempre um prazer ler-te. SInto-me a acompanhar-te por entre as memórias e as bonitas estórias de família e a viver um pouco essas vivências. Obrigada! E claro as fotos são inspiradoras e as receitas... O que eu gosto de figos!
ResponderEliminarMuitos beijos*
Obrigada, Margarida, pela maravihosa receita, mas mais ainda pela fantástica estória, tão cheia de emoção.
ResponderEliminarBjinhos,
Cristina
Olá Margarida! Ao ler mais uma estória do Algarve sinto- me dividida entre as memórias da minha própria infância e o orgulho de ser um bocadinho algarvia!
ResponderEliminarDas memórias da minha infância guardo uma muito forte: do quão importantes são os momentos em que as mulheres da família se juntam para preparar comida de celebração: as empanadilhas no Natal, os folares na Páscoa...e os muitíssimos momentos de risota e "corte e costura" que proporcionam...e da minha mãe, a maria rapaz de 7 irmãos e irmãs que nunca aprendeu nada porque andava a a jogar ao botão com os rapazes, e das vezes que ela tentava reproduzir as receitas de família e só saía uma coisa: gargalhada e chacota!Obrigada por me aquecer o coração com tão boas lembranças!Essa é uma das muitas razões que me faz vir aqui com bastante frequência!
Huummm!
ResponderEliminarAinda sobrou algum "santo"?
Apetecia-me tanto!!! :-)
Bjs
SM
Não sei do que gosto mais na Cozinha: se das receitas, se do seu lado histórico! É que as tradições fazem parte intrínseca das nossas referências. Umas mais ricas do que outras, tal como a vida. Como gosto muito da Doçaria Algarvia, adorei estas receitas! Foi um prazer ter participado nestas memórias da tua Avó! Como são importantes as referências dos avós na educação de uma criança...e hoje tão poucos lhes dão valor! Bjs. Bombom
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